quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Sítio do Picapau Amarelo - vários artistas (1977).

Por que, numa vasta coleção como a minha, escolhi justo falar de um disco para o público infantil – e que não possui nenhuma relação com o pop ou o rock? Simples: Porque este disco traz o que de melhor temos na sonoridade de nossa MPB – gênero que predominou na TV e nas rádios dos anos 70 aqui no Brasil. E você simplesmente não vai encontrar nada de mais sublime numa trilha infanto-juvenil como o material desta obra.

Trazendo um naipe de compositores e intérpretes de primeira grandeza – além do brilhante trabalho de arranjos de Dory Caymmi – esta série baseada na obra do eterno Monteiro Lobato - se tornou atemporal e inesquecível para quem pôde acompanhar pelo menos sua fase de ouro (1977-1980).

Vamos então faixa por faixa:

A1) Narizinho: Composição da consagrada dupla Ivan Lins / Vitor Martins, traz um riff lindo de piano e é uma das mais marcantes do disco descrevendo a personagem de forma lúdica (assim como temos também em “Emília”). Lucinha Lins – que à época já atuava como backing-vocal na banda de Ivan - vem em doce e marcante interpretação e entrega sua voz afinada de forma pungente. Letra massa de Vitor Martins, cujo refrão fica grudado no ouvido! Maravilhosa.

A2) Ploquet Pluft Nhoque (Jaboticaba): Um rico arranjo vocal com percussão, violão e trabalho esmerado de sopro. Primeira participação do grupo PAPO DE ANJO no disco e outra de Dory Caymmi com  Paulo César Pinheiro. 

A3) Peixe: A mais “estranha” do álbum. Os Doces Bárbaros – um grupo reunindo as 4 maiores figuras da música baiana - em 1976 aparecem aqui numa gravação ao vivo com entonações  e inflexões vocais que lembra as loucuras do Tropicalismo (!?).

A4) Saci: Bastante tocada durante os episódios. Aqui, a banda PAPO DE ANJO vem em arranjo vocal sem letra, apenas melodia. A percussão tem papel importante numa harmonia que remete a temas rurais. O violão pontua toda a melodia e carrega, em sua essência, um riff danado de bom. Arranjo de Dory.

A5) Visconde De Sabugosa: João Bosco / Aldir Blanc em grande forma. João já estava consolidado por esta época e sua parceria com Aldir se tornou célebre na MPB. Aqui a levada do violão e pandeiro são exuberantes. Destaque para a interpretação veloz de João e para outra letra que gruda na mente.

A6) Dona Benta: Outra composição da dupla Ivan Lins / Vitor Martins, com linda harmonia – remete à própria figura da personagem, num misto de tranquilidade e acolhimento. O intérprete José Luis não teve papel muito relevante em nossa música, mas executa com maestria os vocais. Bem relaxante e prova da capacidade imensa de letrista que sempre foi Vitor Martins.

A7) Sítio Do Picapau Amarelo: Inesquecível canção-tema de um Gilberto Gil inspirado, este tema ficou gravado na mente de crianças e adultos por toda a segunda metade da década de 70! Com melodia assobiável e levada leve, o arranjo vem exuberante e envolvente do início ao fim.

B1) Pedrinho: Fabulosa composição de Dory Caymmi e  Paulo César Pinheiro. Com linda interpretação e execução da banda AQUARIUS – ver link ao final da resenha - que atua até hoje. 

B2) Arraial Dos Tucanos: Ronaldo Malta interpreta com paixão uma balada típica dos trovadores –me recordou “Ponteio” de Edu Lobo - com orquestração e arranjo que crescem junto à percussão, utilizando outros instrumentos do folclore nordestino como bumbo e sanfona . Composição de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando.

B3) Tia Nastácia: Aqui temos mais um membro dos Caymmi, desta vez o mestre Dorival numa entrega vocal com sua verve e levada de violão típico do cancioneiro nordestino - e de seu próprio estilo.

B4) Passaredo: Outro grande sucesso atemporal do disco e um dos grandes sucessos de sempre do MPB4, esta tem letra instigante e inteligente, ritmada e cheia de nuances. “Bico calado, toma cuidado, que o homem vem aí...” é uma frase que ficou registrada como marca nesta composição brilhante de Chico Buarque / Francis Hime. A orquestração pontuando o piano é sublime.

B5) Emília: Sérgio Ricardo, que ficou conhecido por uma das maiores vaias em festivais (no III Festival da Canção, em 1967)  assim como Lucinha Lins (no Mpb Shell de 1981) – dá vida à eterna boneca numa interpretação ora vigorosa ora preguiçosa.  A levada de violão varia - assim como o autor faz com seu canto - descrevendo a personagem de forma toda peculiar . A lias, a letra cai como uma luva nesta composição do próprio artista.

B6) Tio Barnabé: Retornamos aqui à elementos e arranjos afro para homenagear mais uma figura emblemática do Sítio, com excelente trabalho de violão - que começa dedilhado e depois explode em ritmo batida, percussão, além do acompanhamento de palmas. Sons de pássaros emolduram a curta canção. Composição de JardsMacalé e Marlui Miranda. Interpretação dos autores.

Não possui esta obra? Adquira para ontem e seja criança novamente...Para maiores detalhes, vale a pena a leitura / visualização dos links abaixo:

https://memoriaglobo.globo.com/entretenimento/infantojuvenil/sitio-do-picapau-amarelo-1a-versao/trilha-sonora/

https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_do_Picapau_Amarelo_(1977)

https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_do_Picapau_Amarelo_(%C3%A1lbum_de_1977)


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Rumble Fish Original Soundtrack - Stewart Copeland.


                Este é o filme a que mais vezes assisti. Seja no cinema, em vhs ou mesmo em dvd. O que me encanta nesta película são vários aspectos: A amizade entre irmãos oriundos de uma família pobre e sem horizontes. A fúria da juventude, com suas dúvidas, medos, seu sentimento de não pertencimento à sociedade (tema igualmente proposto em The Outsiders  também da escritora Susan E. Hinton e filmada por Francis Coppola no mesmo ano). A passagem inevitável do tempo. O que já foi e não volta mais – a fama do Motorcycle Boy (interpretado por Mickey Rourke) em cuja sombra se espelha o personagem de seu irmão. A repressão, na figura do policial que espera o momento do acerto de contas. O drama com atípico final como não se deve esperar de filmes americanos. E minha própria estória de vida, na época (1986) com tantas descobertas e novidades (salve galera do cine Estação Botafogo!). Memórias... 
              
 
 
               Coppola utilizou elementos do expressionismo, do gênero policial noir norte-americano e da escola francesa dos anos 60 para criar um belo retrato da sociedade norte-americana na cidade abafada de Tulsa, Oklahoma. Baseou-se quase integralmente no livro homônimo de 1975, da jovem escritora citada. Coppola estava em baixa neste período, com seu Zoetrope Studios em dificuldades financeiras. Obteve, porém, críticas positivas (como também várias negativas). Já li em algum canto que Coppola o considera seu melhor filme.

                Inicialmente o diretor visualizava um experimento rítmico para complementar as imagens. Ao começar a trabalhar com Stewart Copeland ele deixou o ex-The Police manejar os tempos da trilha, dando-se conta da grandiosidade do baterista como percussionista. Copeland gravou sons ao vivo na cidade e utilizou-os mixando com a trilha composta por ele utilizando-se de um software/hardware chamado Musync que modificou o tempo para sincronizar as composições com a ação do filme. Todas as composições são dele, exceto Don´t box me in que foi composta com o vocalista Stan Ridgway – que canta na faixa título. O personagem Rusty James (interpretado por Matt Dillon) acabou por ser tema também de uma canção dos Manic Street Preachers, além da faixa “Hey Rusty” presente no  álbum “Mainstream” dos Commotions de Lloyd Cole em 1987.


 
                O resultado soa como uma das mais perfeitas trilhas dos últimos 30 anos no cinema, um casamento único. O som marca o filme tanto quanto as alusões ao tempo. Minimalista em vários momentos, jazzista em outros, surreal , com utilização contida de guitarras, piano, incursão de vários objetos incorporados à harmonia...enfim, ouvir este disco é lembrar de cenas, diálogos, olhares, sombras - é mergulhar na beleza da sétima arte como um todo! A sutileza e riqueza do trabalho é digno de louvor – foi indicado ao Golden Globe (que acabou não levando) de melhor trilha sonora daquele ano. Veja o filme, reveja e pense seriamente em adquirir esta obra prima. A minha cópia é americana da extinta loja Modern Sound (Copacabana,RJ) e traz na capa a arte do cartaz europeu do filme. Saudações aos audiófilos e cinéfilos!    


                 A All Music Guide (AllMusic) deu 4 ½ (em 5 estrelas) a este álbum.  Foto1: Cartaz americano do filme (Internet), Foto2: Cartaz europeu do filme (en.wikipedia.org), Foto3: coleção pessoal, Foto4: loja Modern Sound (Internet).

ENGLISH VERSION

                This is the movie that more often I´ve watched. In cinema, on vhs or dvd format. What I love in this film are various aspects: the friendship between brothers from a poor family and without horizons. The fury of the youth, with his doubts, fears, his feeling of not belonging to the society (theme also proposed in The Outsiders also by author Susan e. Hinton and filmed by Francis Coppola in 1983). The inevitable passage of time. What's gone and will not coming back - the fame of the Motorcycle Boy (played by Mickey Rourke) in whose shadow mirrors the character of his brother ... The repression, in the figure of the police officer who expects the moment of reckoning. The atypical drama end as one should not expect from American movies . My own story of life at the time (1986) with so many discoveries and innovations. Memories...

                Coppola used elements of expressionism, of the american film-noir and the French school of 60´s to create a beautiful portrait of American society in the city drowned out of Tulsa, Oklahoma. It was based almost entirely on the 1975 book of the same name by the young writer. Coppola was low during this period, with his Zoetrope Studios in financial difficulties. Obtained, however, positive reviews (as well as several negative). Coppola thinks this as his best and perfect film.

                Initially the Director visualized a rhythmic experiment to supplement the images. Start working  with Stewart Copeland he left the former The Police handle the trail, realizing the greatness of the drummer as a percussionist. Copeland recorded live sounds in the city and used them mixing with the score composed by him managing a software/hardware called Musync that modified time to synchronize the compositions with the action of the film. All the compositions are his except Don ´ t box me in which was composed with vocalist Stan Ridgway – who sings on the title track. The character Rusty James (played by Matt Dillon) turned out to be a theme in a song of Manic Street Preachers and also on the track "Hey Rusty" from album "Mainstream" by the Commotions and Lloyd Cole in 1987.

                The result sounds like one of the most perfect trails for the last 30 years at the movies, a unique marriage. The sound fits the images as much as the allusions to time. Minimalist at various times, jazz in other, surreal, with constraint use of guitars, piano, incursion of several embedded objects to the beat ... well, listening to this work is to remind scenes, dialogues, glances, shadows…is diving into the beauty of the seventh art as a whole. The subtlety and richness of the work is worthy of praise – was indicated to the Golden Globe (which ended up not taking) for best soundtrack of that year. See the film, review it and think seriously purchasing this masterpiece. My copy is an american one from  the defunct store Modern Sound (Rio de Janeiro) and brings on the cover the art of the European movie poster. Greetings to audiophiles and cinephiles!

                 Allmusic (AllMusic guide) gave 4 .5 (5 stars) to this album.  Photo1: American movie poster (Internet), Photo2: European movie poster (en.wikipedia.org), Photo3: personal collection, Photo4:  Modern Sound store (Internet).

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Melhores capas em vinil (Best album covers in my collection).

Capas podem ser a razão de se comprar um vinil mesmo que não se goste tanto do conteúdo musical. Considero o vinil a maior obra cultural do século XX, pois engloba três obras em uma: música, arte gráfica e letras.

A partir dos anos 70 houve uma reviravolta na maneira como se dispunha o vinil no mercado. Isto impulsionou a cultura pop da época, com ênfase, é claro, no rock. Artistas ganharam notoriedade e bandas fizeram seu nome também por conta de uma concepção do trabalho como um todo.

Desde os Beatles (Sgt. Pepper´s, 67) no final dos anos 60 até as bandas do movimento Britpop nos anos 90 (Suede, 93) as capas se tornaram extensão da música e venderam um produto.

Muitos gêneros se aproveitaram disto, como o progressivo. Outros, procuraram provocar - como a famosa capa de Andy Warhol para o Velvet Underground (da banana) ou o “Stickyfingers” dos Stones. Há vasto material na internet e livros foram escritos abordando especificamente este tema.

Listo aqui as minhas 15 capas mais relevantes da coleção. As observações e fotos foram retiradas de conteúdo da wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page. Uma curiosidade: quase metade é do ano de 1984. Seus comentários e observações são bem-vindos. Saudações.

(english)

Covers can be the reason to buy vinyl even if you don't like the music content as much. I consider vinyl the greatest cultural work of the 20th century, as it encompasses three works in one: music, graphic art and lyrics.

From the 70s onwards, there was a turnaround in the way vinyl was available on the market. This boosted pop culture at the time, with an emphasis, of course, on rock. Artists gained notoriety and bands made their name also because of a conception of the work as a whole.

From the Beatles (“Sgt. Pepper's”, 1967) in the late 60's totheBritpopbands in the 90's (“Suede”, 1993) the covers becamemusicextensionsandsold a product.

Many genres took advantage of this, such as theprogressivegenre. Others tried to provoke like Andy Warhol's famous cover for Velvet Underground (the banana cover) ortheRolling Stones' “Stickyfingers”. There is a vastmaterialonthe internet and books have been written specifically addressing this topic.

Here I list my 15 most relevant covers from the collection. Observations taken from Wikipédia Page on the net: https://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page. Just a curiosity: almost half of the list came from 1984 year. Your comments and observations are welcome. Greetings.

Melhores artes em capas:

OMD (Architecture & Morality, 81): Capa com recorte onde se vislumbra parte do encarte. (The artwork was produced by Peter Saville and BrettWickens);

REM (Reckoning, 84): Projeto a partir de um esboço do vocalista Michael Stipe e finalizada por Howard Finster. (For the cover of Reckoning, Stipe drew a picture of a two-headed snake, which hethen gave to artist Howard Finster to fill in as a painting); 

MARVIN GAYE (I WantYou, 76): A partir de uma obra de 71 de nome “pintura do barraco açucarado” de Ernie Barnes. (The original The Sugar Shack painting, by neo-mannerist artist Ernie Barnes in 1971;
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/I_Want_You_(Marvin_Gaye_album)#/media/File:Marvin-gaye-i-want-you.jpg

DONNY HATHAWAY (same, 71): Para seu segundo trabalho solo, foi utilizada a arte de Loring Eutemey (for his second solo album, the art was made by Loring Eutemey);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/Donny_Hathaway_(album)#/media/File:Donny_Hathaway_album.jpg

M83 (Dead cities, red seas & lost ghosts, 03): A arte é de Justine Kurland de nome “Snow Angels” (art by Justine Kurland named “Snow Angels”);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/Dead_Cities,_Red_Seas_%26_Lost_Ghosts#/media/File:M83-Dead_Cities,_Red_Seas_&_Lost_Ghosts.jpg

PINK FLOYD (Pigs, 77): Uma das mais famosas capas dos anos 70, possui uma história toda peculiar e idéia original de Roger Waters. (German company Ballon Fabrik - who had previously constructed Zeppelin airships - and Australian artist Jeffrey Shaw;

FELT (The Splendour of Fear, 84): Arte retirada do poster do filme Chelsea Girls (cover art taken from the poster for the 1966 Andy Warhol / Paul Morrissey film Chelsea Girls, designed by Alan Aldridge).
capa:  https://en.wikipedia.org/wiki/The_Splendour_of_Fear#/media/File:Splendorfeltalbum.jpg

FELT (The Strange Idols Pattern and other short stories, 84): Sem informação (no information about);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Strange_Idols_Pattern_and_Other_Short_Stories#/media/File:Strangefeltalbum.jpg 

SILVIO RODRIGUEZ (Unicornio,82): A arte é de Constante Diego (paint by Constante Diego);
capa: 
https://www.discogs.com/Silvio-Rodr%C3%ADguez-Unicornio/master/304606

AZTEC CAMERA (Knife, 84): Foto tirada do clip da canção “Still on fire” (cover taken out of clip from “Still on fire”);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/Knife_(album)#/media/File:Knife_aztec_camera.jpg

GENESIS (In Concert, 77): Este álbum, de ao vivo nada possui. É uma coletânea mal mixada de faixas de alguns álbuns do grupo e esta edição somente saiu no Brasil. A capa é de autoria de A.H.Nitzche. (Brazilian only edition. Art by A.H.Nitzche);
capa: https://www.discogs.com/pt_BR/Genesis-In-Concert/release/3928069/image/SW1hZ2U6NzYzNzQxNA==

EBTG (Eden, 84): desenho feito pela ex-companheira de Tracey na banda Marine Girls, Jane Fox. (cover design by ex- Marine Girls member Jane Fox);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/Eden_(Everything_but_the_Girl_album)#/media/File:Everything_But_the_Girl_Eden.jpg

DEAD CAN DANCE (same, 84): A foto é uma arte da Papua Nova Guiné (photo of a piece of artwork from Papua New Guinea);
capa: https://en.wikipedia.org/wiki/Dead_Can_Dance_(album)#/media/File:Dead_Can_Dance_album.jpg

EMERSON, LAKE & PALMER (Brain salad surgery, 73): Concepção a partir de portfolios de H. R.Giger, o criador do monstro “Alien” (made by H. R.Giger, the man responsible for the "Alien" monster).









terça-feira, 27 de outubro de 2020

A música pop perfeita parte 4: Lloyd Cole & the Commotions - Rattlesnakes (1983).

Uma das estréias pop (eu disse pop , e não rock) mais perfeitas da história está neste disco. Os escoceses liderados pelo barítono, galã e estudante de filosofia Lloyd Cole colocaram 10 músicas perfeitas num único disco.

A capa inglesa (esquerda) é muito mais chique – de autoria do fotógrafo Robert Farber – e me recorda os chalés da série Twin Peaks. A capa brasileira é a mesma que a americana, com a banda tocando num ambiente escuro. Atingiu o 13 lugar na parada britânica. Mas marcou muito mais que muito “top ten” por aí...

Bebendo na fonte de Dylan, Cole – autor de grande parte das canções sozinho – reuniu nos Commotions um time de caras que realmente se entregaram aos arranjos antes que aos egos, sublinhando estes com uma leveza e uma sensibilidade magistrais. Destaque para o guitarrista Neil Clark. Para falar do trabalho, há que se dar ênfase nas letras – afinal Cole chegava como um exímio letrista contemporâneo e seu escrito tem o perfil de crônicas modernas à dois. Como não tenho no encarte (nem na versão brasileira e nem na inglesa) as mesmas, prefiro comentar mais o trabalho dando uma idéia geral de cada faixa. Mas praticamente todas estão centradas no amor e seus desdobramentos segundo o próprio autor.

  1. Perfect skin: Arranca a todo com a banda entrando na cola do riff de guitarra e Cole desfiando sua admiração pela figura feminina de pele perfeita. Rápida, deliciosa e febril como uma paixão de verão. Primeiro single do trabalho.
  2. SpeedBoat: É baseada num livro e possui sua base climática nos teclados, dando a languidez de um passeio mesmo por um rio. De um arranjo bem trabalhado, dá uma idéia de como a banda consegue tirar o máximo de criatividade com um mínimo de harmonias.
  3. Rattlesnakes: A entrada pomposa com cordas e violão pontua esta canção rápida que dá nome à obra e mostra a capacidade trovadora Dylanesca interpretativa de Cole, com suas tiradas tipo "(...) tudo o que ela precisa é terapia" ou ainda "(...) o amor é um desapontamento cinza". O clipe foi filmado no mesmo local onde a banda posou para as fotos do LP, no caso duas distintas.
  4. Down On Mission Street: Também possui guitarra marcante e arranjo de cordas num crescendo ao final. É mais comportada, introspectiva, porém, também bela. Me parece que a banda tirou alguns elementos da música norte-americana para esta composição.
  5. Forest Fire: É, em minha visão, uma das dez maiores canções do pop inglês dos anos 80. Climática, jovem, poderia ser tema de qualquer filme teenage dos 80´s como “Saint Elmo´s fire” ou “Preety in Pink”. De uma grande carga poética, a canção vai num crescendo até o teclado ditar as regras num final magistral. Foi o segundo single do disco.
  6. Charlotte Street: É mais densa, mais triste. O teclado tem vital importância aqui.
  7. 2cv: Arrastada, americana, sem bateria...a menos marcante do álbum. Cole como sempre ácido: "Nós simplesmente estamos perdendo tempo precioso" em mais uma letra de relações mal resolvidas.
  8. Four Flights Up : Também é rápida, lembrando a estrutura de composição típica do R.E.M.
  9. Patience: Traz um momento de delicadeza, pontuando uma relação a dois rompida, com um backing feminino bem sacado, que por vezes chega a conduzir Cole. A banda novamente cresce nos arranjos. O líder se arrisca – e bem – nos falsetes.
  10. Are you ready to be heartbroken: Fecha o disco com chave de ouro e é minha preferida. Simples, mas gruda no ouvido. Aqui o acordeon diz “presente” para dar cores a uma letra que destaca a dor como parte inerente do amor - como nos versos: “Fazendo seus amigos se sentirem culpados(...)” e “ Você está pronto para sangrar? ” Uma pequena obra-prima - como a linda “Down in the Seine” do Style Council – que usa do acordeon para se revestir de Europa.
Prontos para a comoção dos sentidos? Para sangrar a sensibilidade? Na realidade entro num estado de hemorragia profunda com este disco (rs). E que dor prazerosa...

Aqui deixo registrado duas boas resenhas deste mesmo disco que encontrei na Net:

http://www.aescotilha.com.br/musica/vitrola/lloyd-cole-and-the-commotions/
http://www.botequimdeideias.com.br/flogase/disco-pop-perdidos-11-lloyd-cole-the-commotions-rattlesnakes/

Resenha por: Alvaro Az.

Fotos: discos e encarte (coleção particular).

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Dez discos preferidos da MPB por Richard Valenta.

Seguem os dez álbuns preferidos da MPB de meu amigo Richard Valenta, enviadas diretamente da Alemanha.

1 – Secos e Molhados – Debut
2 – Oswaldo Montenegro – Entre uma balada e um blues
3 – Mutantes – Tudo foi feito pelo sol
4 – Pepeu Gomes – Geração do som
5 – Cazuza – Ideologia
6 – 14 Bis – Debut
7 – Zé Ramalho – Debut
8 – Milton e Borges – Clube da Esquina
9 – Beto Guedes – Contos da lua vaga

10 – Flávio Venturini – O Andarilho

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Meus dez discos preferidos da MPB.

Este post não busca ser influenciador nem muito menos ordenar uma lista em preferência.

Aqui vai minha relação dos 10 maiores discos de MPB.
Obviamente, a escolha não é por critérios de produção, importância na
nossa música ou mesmo relevância a nível de definição de estilos, etc.
Vai mesmo do lado sentimental que estes discos ou músicas significam
para mim.

Comentários sempre bem vindos.

  • O último pau-de-arara - Fagner (1973)
  • Alucinação - Belchior (1976)
  • Maravilhas contemporâneas - Luís Melodia (1976)
  • Clube da esquina - Lô Borges & Milton Nascimento (1972)
  • Oswaldo Montenegro (1980)
  • Galos de briga - João Bosco (1976)
  • Amar - Simone (1981)
  • Zé Ramalho (1978)
  • Milagre dos peixes - Milton Nascimento (1973)
  • Matita Perê - Tom Jobim (1973)

Aproveito para indicar a leitura desta resenha de Mauro Ferreira no canal do G1, onde ele fala um pouco sobre o álbum "Matita Perê" de Jobim.


https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/05/16/discos-para-descobrir-em-casa-matita-pere-tom-jobim-1973.ghtml

quarta-feira, 27 de maio de 2020

A música pop perfeita parte 3: The Carpenters - Horizon (1975).

Demorei a curtir a música dos Carpenters, muito porque meu irmão mais velho ouvia constantemente e meu barato era o Rock à época, e não o pop. Também demorei a perceber o quão vistoso era o grave de Karen, uma cantora completa, uma estrela, uma das vozes femininas mais marcantes da música moderna do século XX.

Horizon é o sexto álbum de estúdio da banda e para mim, o petardo pop perfeito da dupla.


Se Richard apenas tivesse escrito "Aurora / Eventide" - músicas que abrem e fecham o disco, já poderia levar um prêmio especial. Estas pequenas composições carregam uma aura de divindade / angelitude extremas. Não são deste mundo. Sobrenatural a harmonia e interpretação de Karen, já valeriam o disco.

"Please Mr. Postman" alcançou o topo da parada de singles da US Billboard, se tornando um mega sucesso mundial, assim como "Happy" - ambas composições de terceiros e a estrondosa "Only Yesterday" com uma inflexão grave magnífica (!) de Karen logo no primeiro verso. Esta última alcançou o quarto lugar da Billboard. Todas as três foram responsáveis pelo sucesso do álbum em vários países, incluindo o Brasil.

"Desperado", uma releitura da dupla dos Eagles, poderia bem estar na trilha sonora de obras como "Paris, Texas" de WinWenders ao lado dos instrumentais de Ry Cooder, pois a harmonia com gaita de Tommy Morgan abrindo e fechando a faixa dentro do belo arranjo e o tema da letra remetem a distanciamento e drama. Uma pérola.

Outra que merece destaque no álbum é "Solitaire" - terceiro single do´álbum. Com magnífica performance de Karen - redundância né? - e mais um belíssimo arranjo do duo. 


"I can´t dream, can´t I" e "Love me for what I am" são outras duas releituras mais calmas na interpretação e com arranjo mais modesto, digamos assim. Destaque para o solo brevíssimo de Tony Peluso na guitarra nesta última.

Já "Goodbye and I love you" é uma gostosua com os arranjos vocais típicos da dupla, numa bela composição de Richard com o parceiro John Bettis.

Este álbum, no geral, é bem reflexivo, dentro da característica dramática e melancólica presente na voz de Karen. A revista Rolling Stone, na época, aclamou a obra como a mais sofisticada do duo até então. No Japão e Inglaterra, o petardo chegou ao 1° lugar da parada.


Se vc quiser começar a se aprofundar na música da dupla, comece por este álbum. Boa viagem...
Créditos: foto 1 (discogs.com), foto 2 (pinterest.com), foto 3 (myspace.com/thecarpentersofficial). Review por Alvaro Az.